quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Até Breve, José

Até Breve, José é uma delicada experiência literária, uma narrativa que combina a força do texto e a sutileza do projeto gráfico. Com uma linguagem suave pontuada por lampejos espirituosos, o livro relata a dor da perda e o reencontro com a esperança.
Para continuar acompanhando a história de Até Breve, José, veja também a página no Facebook - https://www.facebook.com/atebrevejoseolivro

para comprar na pré-venda até 23 de março
https://www.catarse.me/pt/atebrevejose
O Projeto
A motivação a partir da perda
O que me inspirou a escrever para meu filho depois da sua partida foi a enorme rede de solidariedade em que fui acolhida no momento da perda. Enquanto escrevia movida por uma força visceral, não me preocupei com questões práticas da publicação, concentrei energias apenas em relatar nossa história, vivenciando um poderoso processo catártico. Como jornalista, busquei conhecer outras mães que passaram pela mesma experiência – a perda de um filho ainda bebê – e com o tempo passei a ser procurada por elas, oferecendo meu apoio no momento em que precisavam conversar com alguém que tivesse passado pelo mesmo processo. Foi a partir desta troca que tive certeza de que valia a pena publicar este livro, apesar de todas as dificuldades emocionais e práticas que teria de transpor.
A feitura artesanal
A começar pelo tema, bem diferente dos assuntos com que estamos habituados, mas absolutamente necessário, tudo neste livro é original: foi idealizado com ilustrações para que as imagens pudessem acolher com suavidade o texto sensível e tão real. Ao invés de trâmites habituais, escolhi convidar talentosos profissionais para participar do projeto e, um a um, fui reunindo editora, designers, fotógrafa, revisor e produtora. Assim, artesanalmente e com muito carinho, foi a feitura de Até Breve, José.
"veja um capítulo":
A impressão colaborativa
Na hora de publicar – dados os custos de finalização - foi preciso considerar um novo formato. Por se tratar de um projeto tão pessoal, de uma história emocionante e, ao mesmo tempo, tão delicada, optei por uma produção independente, sem editoras, distribuidoras ou livrarias. Assim, cada leitor será um colaborador e poderá se relacionar diretamente comigo, conectando-se profundamente com esta história e seus aprendizados. Por meio da pré-venda colaborativa, aqui os futuros leitores adquirem o livro e, ao mesmo tempo, viabilizam que ele seja impresso.
"capa":
Finalmente, o livro!
Assim como a travessia do deserto do luto, o livro hoje torna-se possível e mais fácil graças à força do coletivo. É por meio da contribuição voluntária de todos que vamos permitir que ele chegue a quem tiver que chegar.
Perto de completarmos quatro anos da passagem do nosso José por aqui, é com emoção que agora podemos dizer a todas as pessoas que em algum momento escreveram, procuraram ou apenas acompanharam a minha história, por vezes perguntando: “e o livro?”, que sim, ele existe, está pronto e está LINDO!
Colabore para que ele seja impresso e que, assim, a história do José alcance mais pessoas e nos recorde sempre de como podemos – e devemos – ser gratos à vida, mesmo quando ela nos traz a morte.
https://www.catarse.me/pt/atebrevejose

sábado, 3 de março de 2012

Aniversário de um ano, homenagem


No dia 4 de março de 2011 nasceu um bebê chamado José Luis. Embora tenha tido uma gestação perfeita e nascido a termo, José enfrentou desafios maiores do que seu corpo conseguiu suportar. Pouco antes de completar seu décimo segundo dia de vida, foi embora. 

Apesar de nunca ter falado ou aberto os olhos, José deixou grandes lições para as pessoas ao seu redor. Por causa dele, amigos se formaram. Pensando nele, pessoas se aproximaram, passaram a rezar, refletir, e até mudaram um pouco sua forma de ser. Todos se elevaram para conversar com José. O bebê partiu, mas deixou sua luz.

Um ano se passou. Hoje, nós, pais de José, estamos grávidos de uma menina, que chegará em algumas semanas para encher de alegria a casa que ficou órfã de bebê. O irmão de José, Pedro Luis, com apenas 3 anos e meio, fala sempre do seu “irmão que está no céu, que brinca numa nuvem e dá beijinhos invisíveis na gente”.

As saudades e a lembrança guardamos, mas a tristeza e o sofrimento, escolhemos deixar ir embora. À sua maneira, José tem seu lugar na família, tem sua história, que nunca será esquecida. Uma história que ainda está sendo escrita, com amor e paciência, e quem sabe um dia estará acessível para ajudar mães e pais na intensa e engrandecedora experiência do viver e do morrer.

Às 21h57 de amanhã, dia 4 de março, se você se lembrar do José, reúna-se com os seus e acenda uma vela, faça uma prece, coloque rosas brancas na água ou escolha uma música bonita para tocar. O gesto você decide, o que importa é dedicar a ele. Homenageie junto com a gente, cada um na paz do seu lar, mas todos juntos em vibração, este ser que tanto nos ensinou e por quem temos eterno amor e gratidão.

E quando a Joana chegar, aí sim, podemos nos reunir em uma bonita festa, para celebrar novamente a vida.

Paz para todos, Camila Goytacaz



sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Quando o Carnaval chegar


Querido José,

Quando o Carnaval chegar, vamos lembrar de você.  Foi numa sexta-feira de Carnaval que você chegou e encheu nossas vidas de luz, no sentido mais amplo que existe. Com você, aprendemos que a vida nem sempre é como sonhamos ou planejamos, e sim como é. Aprendemos muitas lições, choramos, sofremos, sentimos. Mas crescemos.  Muito. Nós apenas? Não, pois durante sua trajetória por aqui, as pessoas se aproximaram, se abriram.  Você nos deixou um legado, uma herança preciosa, cheia de pessoas queridas, de amor, de fé, de espiritualidade, e acima de tudo, de amor.

E aqui com meu barrigão lindo, quando o Carnaval chegar, vou lembrar de você. Quando completar um ano do seu nascimento, teremos oito meses de gestação da sua irmã, que agora se mexe aqui na  barriga. Joana, que quer dizer "Deus é cheio de bençãos". E no dia 16 de março, quando um ano da sua partida marcar, entraremos no nono mês, e ela estará prontinha, apenas esperando a hora de vir.

E quando a Páscoa chegar, vamos lembrar de você, com ela aqui no meu colo. Talvez choremos. Porém, mais do que nossos pensamentos ou lágrimas, o que mais tenho para te dar é meu amor. E amar-te significa libertar-te. Libertar todos os dias. Lembrar, sentir, e em seguida libertar, enviando nosso amor com o vento, com o sopro que sai dos nossos pulmões quando sentimos saudades.  Com a água que escorre dos olhos quando choramos de amor. 

Hoje sou lua crescente, amanhã serei lua cheia. Mas já fui minguante e já fui escura. Já fui até um céu sem lua. E depois, serei lua nova. E sou a lua que recebe a sua luz, porque você é o Sol, José, é o meu Sol. 

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Somos cinco

Querido José,
Tenho uma coisa muito especial para dividir com você. Você vai ter um irmão. Pois é, meu filho, lá no plano espiritual acham que estamos preparados para acolher outro ser. Então estaremos. Foi com muita emoção que recebemos a noticia. É com muita honra que agora me preparo para gestar e nutrir este bebê.

Neste momento o amor que sinto por você e pelo Pedro se multiplicou. Trazer um irmão à vida é um grande presente que daremos ao Pedro, que afinal, ficou saudoso de experimentar companhia de verdade em casa, “no chão e não no céu”, como ele diz. E para você, meu querido filho, saber que seu irmão vem é a certeza de que tua passagem foi em paz. A chegada da vida em nossa vida prova que tudo isso é parte da vida. Está tudo certo, afinal.

Não sentimos mágoas, não temos rancores, não há arrependimentos, não há culpas e nem culpados. Doeu. Dói, ainda. Muito. Muito mesmo. É o inimaginável. Mas é a vida.

Tenho medo, confesso. Medo de passar por tudo de novo. Medo da vida e medo da morte. Mas já conheço as duas um pouco, estamos mais íntimas.

A gravidez deste bebê é magnânima. É curativa. É amor, puro amor. Outro bebê é outro bebê e José é José, e Pedro é Pedro, e eu sou a mãe destes três seres, um ainda não vi, mas já estou amando. Um que conheço muito bem, cada olhar, cada risadinha. Outro que conheci muito pouco em vida breve, mas que sinto conhecer  profundamente.  Você. São nossos filhos, meu e do Luis Fernando. Filhos da vida que compartilhamos.

O primeiro é filho do amor apaixonado. O segundo, filho do amor planejado. O terceiro, filho do amor enlutado. Do amor que se afogou em lágrimas. Do amor que sobreviveu. É o filho do amor sobrevivente que carrego em meu ventre.

José, espero que esteja orgulhoso de nós. Espero que sinta e veja como estamos bem, como estamos vivendo cada dia com mais alegria. Assim como sei que assiste nosso choro já cansado, imagino que ouça nossas gargalhadas. Espero que sinta nossa vibração de gratidão a você. Gratidão imensa e eterna, meu filho, por tudo que nos ensinou.

A saudade também nos acompanha. Só aumenta. Que tolos aqueles que acreditam que a saudade diminui com o passar do tempo. Em relação de mãe e filho, não. A saudade que mãe sente de filho é para sempre no pensamento, no coração, pulsando. É a lembrança constante a cada dia, a cada hora, a cada segundo. A gente só se acostuma com ela. Pensar em você é parte do existir. Lembrar de você é parte do viver. Você é meu viver, também, afinal. É por você que me esforço para ser uma pessoa melhor a cada dia.

José, cada pequeno gesto que fazemos, dedicamos a você. Seu pai salva a vida de um inseto e dedica a você. Eu rego as plantas e dedico a você. Todos os gestos de amor que realizamos aqui na Terra são para você. Ambos fomos procurar aprender, crescer, inclusive espiritualmente. É a forma que encontramos de cuidar de você, como aqui cuidamos do Pedro. E como cuidaremos do seu irmão ou irmã que chegará em oito meses.

Sei que vou dar conta dos meus medos, dos meus traumas, das minhas tristezas e de tudo mais que esta gravidez possa representar. O que for preciso, vou rever. Revisitar. E o que não for, vou recolher.
Cuidarei de mim, meu filho, fique tranquilo. Cuidaremos uns dos outros, como estamos fazendo até então.

Estamos para completar seis meses que você se foi. Seis meses. Parece que foi há tanto tempo. Estes meses foram de acomodação, da tristeza assentando e o desespero saindo. A vida voltando ao rumo. A gente se esforçando bastante para viver e para aceitar. Deixando as janelas abertas para a vida entrar.

Sabe, não tenho nenhuma fotografia sua e nenhum objeto que tenha sido seu, com exceção de uma fraldinha que foi usada para lhe aquecer, e que fatalmente um dia perderá o cheirinho. Mas tenho sua lembrança em minha memória, para sempre.

Amanhã verei a primeira imagem do bebê que está na minha barriga. Quero muito conhecê-lo. Sinto que já é uma criança especial. A criança que chega para aquecer o coração daqueles que viram a outra criança ir embora. Chega para os braços que ficaram vazios. Que linda missão traz este bebê.

Sinto-me pronta para a gestação. Espero me sentir pronta quando for a hora do bebê chegar. Para isso, quero crescer ainda mais, quero me elevar para ter a coragem e a fé na vida que é preciso para virar mãe, mais uma vez.

Você me acompanhará, José? Não tenho dúvidas. Seguiremos juntos. Você cuida das coisas por aí e nós cuidamos por aqui.  Seguiremos juntos, para sempre. E agora somos cinco, meu filho. Somos cinco, meu filho. 

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Pássaros que voam juntos e sozinhos

Estes são os tsurus, também conhecidos como cegonhas. São de origem japonesa, significam boa sorte, felicidade e saúde e são feitos de papel, em origami. Reza a lenda que aquele que fizer mil tsurus terá seu pedido realizado pelos deuses.
Aprendi isso com uma pessoa que eu nem conhecia, uma mãe muito generosa, que começou a fazer os tsurus na ocasião em que meu José estava hospitalizado. Quando ele partiu, ela tomou o cuidado de embalar com muito capricho num tule lindo e me remeteu pelo correio. Qual não foi minha surpresa ao abrir a caixa e me deparar com dezenas destes pequenos pássaros, todos perfeitos, coloridos, lindos, de todos os tamanhos e cores.
Senti um amor enorme cercando minha família com este gesto. Aquele cuidado, aquela delicadeza vindo de uma desconhecida, só poderia ser a força do Amor Maior. Queria expor os tsurus pela casa, mas como?


Então meu marido sugeriu um móbile. Pedimos à minha cunhada, muito talentosa, que cuidasse disso. E em meio à dor e toda a nossa preocupação em continuar vivendo, esquecemos dos passarinhos.
Eis que ontem eles voltaram. Voando, lindos, em círculo. Fortes e delicados ao mesmo tempo, como foi meu José. Presentes na terra e no céu, como meu José. Únicos, especiais, inesquecíveis, como meu José. Vieram voando e trouxeram bons ventos, novos ares.
Obrigada à Rita Moraes por toda a vida, energia e amor que colocou em cada dobradura. Obrigada à Maria Fernanda pela perfeição no equilíbrio dos pássaros, de modo que consigam voar, uns atrás dos outros, sempre juntos mas também sozinhos. E não é assim que caminhamos nós, também?

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sexta-feira, 10 de junho de 2011

Gostava tanto de você

Outro dia, dirigindo, comecei a chorar ao ouvir esta música. Comecei chorando baixinho, só um pouco e, ao final da música, estava soluçando. Foi impossível não me identificar com a letra. Pensei na minha situação. Mas na mesma hora, imaginei que era mais provável que a letra falasse de um cara que foi abandonado por uma mulher qualquer. Pois hoje, ao acaso, descobri que, ao contrário do que eu pensava, esta música nao fala sobre um romance que acabou. Na verdade,a letra foi escrita por um pai que perdeu um filho. E eu só senti isso, só percebi isso, depois que aconteceu comigo. Já tinha escutado e cantarolado milhares de vezes e nunca me atentei para a profundidade de suas palavras. E agora sinto cada nota desta música tocando intensamente aqui dentro do meu coração....

Gostava tanto de você

Não sei por que você se foi
Quantas saudades eu senti
E de tristezas vou viver
E aquele adeus não pude dar
Você marcou a minha vida
Viveu, morreu na minha história
Chego a ter medo do futuro
E da solidão que em minha porta bate
E eu gostava tanto de você
Gostava tanto de você
Eu corro e fujo destas sombras
Em sonhos vejo esse passado
E na parede do meu quarto
Ainda está o seu retrato
Não quero ver para não lembrar
Pensei até em me mudar
Lugar qualquer que não exista
O pensamento em você
E eu gostava tanto de você
Gostava tanto de você...

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Perdoa-me, José

Perdoa-me por meus momentos de revolta, José. Dias como hoje, em que acordo e meu primeiro pensamento é: puxa, mas que droga que isso me aconteceu.

Perdoa-me por meus momentos de fraqueza. Dias como hoje, em que minha energia não aparece e o desânimo insiste em se instalar. Pelas horas em que chego a sentir raiva de algumas pessoas, pessoas que não tem nada a ver com nada, e nem sei por que me irritam. Pelas horas em que entro naquele ciclo vicioso de “por que comigo” que mostra o quanto sou limitada e egoísta.

Perdoa-me pelos meus questionamentos sem fim, a busca incansável pelos porquês. Sei que não devo entender os porquês, não ainda, são razões superiores, de outro plano e de outra ordem, e não cabem dentro da compreensão humana, são maiores e mais complexas do que posso administrar hoje. Envolvem outras vidas, minha e sua. Envolvem coisas que minha mente teve se esquecer para chegar aqui e viver esta vida.
Perdoa-me pela minha ansiedade. Quero logo ficar bem, ficar ótima, seguir e não mais sofrer. Sei que tudo tem seu tempo e que também este tempo vai acontecer à sua maneira, as coisas vão se acomodar.

Perdoa-me minha saudade. Ela é imensa e não tem cura. Agora mesmo estava deitada na cama, lendo um livro de grande sabedoria e pensei em você. O sol que batia no quarto aquecia a tarde de inverno. Pensei que poderia estar ali deitado comigo, poderíamos juntos desfrutar o calor do Sol. Sinto saudades de você em todos os minutos que vivo algo bom, pois queria que você vivesse também.

Perdoa-me meu olhar cansado. Há momentos em que não consigo alegrar meu olhar para ver as coisas boas da vida. Perdoa-me se minhas lágrimas lhe fazem sentir tristeza. Já ouvi falar que os espíritos que se foram sofrem quando veem os seus a sofrer aqui na Terra. Acredite, minhas lágrimas de forma alguma devem agoniá-lo, pois em meu interior mais profundo, me sinto bem, compreendo e aceito sua partida. Choro, no entanto, não sofro de inconformismo. Choro por amor, apenas, meu filho.

Perdoa-me meu desejo de fazer coisas tão frívolas, tão pequenas, com você. É difícil para meu coração entender que você não é este filho de carne e osso, é o filho espiritual, que não desfruta de prazer nestas pequenas coisas e sim vivendo a sua evolução, amparado pelo que há de mais verdadeiro.

Perdoa-me se não consegui cumprir nenhuma das promessas que lhe fiz em vida. Prometi que ficaríamos juntos, que nossa separação era temporária, que você ficaria bem, que logo estaria aqui em casa. Foi muita prepotência da minha parte prometer o que de mim não dependia.

Perdoa-me pela minha humanidade, meu filho. Por este meu lado tão preso às coisas mundanas, tão idealizador, tão planejador, que se aborrece com os planos que mudaram, a vida que não aconteceu, os sonhos não concretizados. Perdoa-me por ser tão pequena a ponto de achar que algo realmente é planejável ou está em nossas mãos.

Perdoa-me por minha possessividade. Fico o tempo todo falando do “meu filho que partiu”, “meu bebê que se foi” sem perceber que você não é e nunca foi meu. Eu o recebi como filho, aceitei gerá-lo em meu útero e dar lhe a vida, ainda que para ser breve, mas nunca foste meu como uma posse, assim como nenhuma mãe é dona dos seus filhos. É apenas meu sentimento de amor que por vezes me faz assim dizer, mas no fundo, sei que não me pertence, pertence ao universo. És apenas filho do Pai. O único e verdadeiro, Deus, esse sim te acompanha e cuida de ti.

Perdoa-me por minhas palavras erradas, pelas dúvidas que coloco, pelas fraquezas que sinto tantas vezes. Sei que sua passagem por minha vida veio me trazer sabedoria e evolução, e desejo do fundo do meu coração assimilar os ensinamentos que com tua bondade e generosidade veio me trazer.

Perdoa-me se meu processo caminha lento ou se dou passos errados. Estou aprendendo e só quero acertar, acredite.

Por fim, perdoa-me se não encontro as palavras certas nem para te pedir perdão. Tudo que quero é a vossa absolvição, para que meu coração possa se sentir livre e leve de qualquer sofrimento. Quero apenas sentir que, em despeito de toda a minha condição momentânea e limitações aqui na carne, nós dois estamos sim conectados, interligados, como aliás sempre estivemos, muito antes e muito depois de meu corpo abrigar o seu corpo.

Escrito em 24 de abril de 2011.

domingo, 17 de abril de 2011

O silêncio de um mês

Desde o dia em que o José nasceu, estou escrevendo. Vou colocar aqui alguns trechos que já estão escritos, que retratam um pouco do nosso sentimento. Quem quiser continuar acompanhando, sempre que possível, voltarei aqui para homenagear nosso José.

O SILÊNCIO

"O silêncio antes de nascer, silêncio depois da morte, a vida é um mero ruído entre dois insondáveis silêncios”

Completamos um mês da passagem do José. O que aconteceu neste um mês? A vida continuou. Por mais que eu não quisesse aceitar e nem ver, ela continuou. Percebi isso quando vi as plantas crescendo no nosso jardim, quando vi que o outono chegou, o cabelo do Pedro cresceu, a comida da despensa acabou. O tempo continua passando, por mais que isso me irrite, às vezes. E nada eu posso fazer para pará-lo. E nada para fazê-lo regredir. E por isso dói, pois me mostra que nada pode trazer nosso José de volta.

Estou cuidando de mim e do meu estado de espírito da forma como posso e sinto. Não estou ótima nem péssima. São momentos, apenas. Há momentos em que estou bem, me sinto até que feliz e consigo fazer algo com disposição e sem tristeza. E há momentos que estou sentindo uma dor profunda, deitada na cama. São momentos, apenas.
Queria muito acordar um dia e ainda estar grávida. E de repente ele nascer. E vir para o meu colo e aqui ficar. Queria tirar estas lágrimas do meu rosto e a pena do rosto dos outros. Me olham com tanta pena, meu Deus!
Mas como eu já disse antes, o curso da vida não tem nada a ver com o que eu queria. A vida vai seguir seu rumo, tem seus planos, e eles não seguem nossas vontades, mas sim a de Deus.

E hoje faz um mês. Eu não estava preparada para a morte. Nós nunca estamos preparados para a morte, muito menos a de um recém-nascido.
Todo mundo fala “a vida tem destas coisas” ou “são coisas da vida” ou “a vida continua”. Isso que está acontecendo com a gente não é coisa da vida! A morte faz parte da vida e são coisas da morte. A vida, ao menos para mim, é o todo dia, a rotina que temos, amigos e família no almoço de domingo. Este cotidiano tão simples e tão sagrado é realmente a vida. A morte é aquela que vem, de vez em quando, sentar à mesa com a gente.

Como podem notar, estou muito ocupada pensando, sentindo, analisando, lendo e tentando entender tudo que nos aconteceu. E esta minha ocupação é justamente o que vai fazer o tempo passar. Não quero guardar a dor no armário, quero vesti-la. Quero encará-la de frente. Assim como a dor do parto, não quero negá-la. Mesmo que ela ocupe meu tempo, tudo bem, estou com tempo para ela.
Se desligar de um filho é o maior exercício de desapego que um ser humano pode fazer. Esquecer um filho é completamente impossível, mas desapegar é possível. E este é hoje meu exercício diário.

Mas estou orgulhosa de nós. Afinal de contas, ninguém saiu por aí mundo afora, ninguém ficou louco ou abandonou tudo e todos para passear com a dor. Confesso que tive muito esta vontade e hoje entendo um pouco estas pessoas que vão vagar por aí, pois é uma forma de fugir do sofrimento.

Ando pela casa com minha xícara de chá e minhas lágrimas. Choro facilmente em qualquer lugar e pouco me importo com as pessoas olhando. Choro no supermercado, na caminhada, onde for e onde vier. E deixo as lágrimas saírem. Tem horas em que dá muito trabalho disfarçar.

Choro e escrevo. E assim está nascendo o que pode ser o livro do José. Nascimento e morte são feitos da mesma substância e são experiências bem parecidas. O pós-parto e o pós-morte viraram uma coisa só para mim, e é sobre esta fusão que escrevo.
O livro que pari com o filho que perdi.

“os filhos são como livros, são viagens ao nosso interior nas quais corpo, mente e alma invertem seus rumos, regressando ao próprio centro da vida”.

As duas citações são da escritora Isabel Allende, verdadeira mestre em falar dos sentimentos.

domingo, 20 de março de 2011

Um navio

Imagine que você está à beira-mar e você vê um navio partindo
Você fica olhando, enquanto ele vai se afastando e afastando, cada vez mais longe
Até que finalmente aparece apenas um ponto no horizonte
Lá onde o mar e o céu se encontram
E você diz: "Pronto, ele se foi"

Foi aonde? Foi a um lugar que sua vista não alcança
Só isto
Ele continua grande
Tão bonito e tão importante como era quando estava com você
A dimensão diminuída está em você, não nele
E naquele exato momento em que você está dizendo "ele se foi", há outros olhos vendo-o aproximar-se, outras vozes exclamando em júbilo:
"Ele está chegando"


Rabino Henry Sobel

quinta-feira, 17 de março de 2011

Pode ir, José

"Para as mães, pais e todos os amigos do nosso José,

Há pouco completaram-se 24 horas do momento nosso José foi embora. Às seis da tarde, horário dos anjos, ele partiu. Quero contar para voces como foi, para aquecer o coração. Foi acompanhado por mim e pelo pai. Morreu no meu colo, com minha mão sob seu peito, eu sentindo cada batida do seu coraçãozinho, o pai segurando sua mãozinha e com o calor do meu corpo esquentando o seu tão debilitado corpinho.  Foi com muito respeito, dignidade, e muito, muito amor. Fui conversando com ele, falando coisas boas, falando sobre esta viagem que ele ia fazer. Pedi para que ele procurasse os amigos do plano espiritual, os mesmos que o ajudaram a chegar, pois certamente estariam ali para levá-lo para a luz. Com a mesma energia de amor e paz que chegou, que foi parido, José foi embora.  Meu bebê estava muito cansado. Todas as mães conhecem seus bebês, e quando cheguei ontem ao hospital logo entendi o recado que ele estava dando, ele estava dizendo que cansou, que não queria mais lutar, não queria mais ficar, que tinha terminado seu período aqui com a gente.  Ele falou pelos poros, pela pele, mais claro do que com palavras. Mas eu entendi e Lufe também. Não deixou dúvidas. Pediu para ir. Pedi para os médicos que respeitassem o bebê, que não segurarem além da conta aquele menino que estava tentando partir. Eles já vinham sinalizando isso e foi uma decisão conjunta. Falamos para colocarem no nosso colo. Fomos muito respeitados e tivemos o privilégio de nos despedir do nosso filho com privacidade, calma e tranquilidade. . Foi batizado ali mesmo.

Primeiro, Lufe pegou no colo, pela primeira vez, e conversou muito, beijou muito nosso nenezinho. Quando veio para mim, abracei e disse: pode descansar, José, aqui no colo da sua mamãe. E assim foi. Ele foi se desconectando devagar, no tempo dele. Dizíamos simplesmente eu te amo, e sinto muito por tudo isso. Lufe falava sobre como ele poderia se tornar um anjinho e vir cuidar do Pedro, seu irmão que também o amava muito.  A gente agradeceu cada minuto que ele viveu aqui com a gente, agradecemos todo o esforço e sua  luta pela vida, que nos trouxe tantos ensinamentos.  Claro que eu queria fazer muito mais pelo meu filho. Nunca dei um banho nem troquei uma fralda. Mas dar o colo e o todo meu amor na hora de ir embora foi o que eu pude fazer e tenho certeza que desta forma ajudei esta alma a ter uma passagem sem medo. Da mesma forma que chamamos e pedimos com todo o amor para ele nascer, também me entreguei na hora que ele foi. O adeus foi um parto às avessas, como me ensinou a Fabiola. Depois que ele faleceu, eu mesma tirei o respirador, os esparadrapos, coloquei a roupinha, pela primeira e única vez. Amei tanto nestes doze dias que valeram mais do que uma vida toda. Foi um adeus humanizado, depois de um parto muito humanizado.

Pedro, meu filho mais velho, gosta muito de uma música que ele chama de “sem a tua”. Ela diz assim “como pode um peixe vivo viver fora da agua fria... como poderei viver sem a tua, sem a tua, sem a tua companhia”. Hoje esta é minha dúvida. Não sei como vou viver sem esta companhia que foi tão intensa, tão presente, tão forte em nossas vidas. Meus planos para 2011 eram apenas curtir a maternidade. Agora tenho um vazio sem fim para preencher.  Olho em volta e vejo um berço sem dono, um leite escorrendo sem criança pra mamar e uma mãe tão pronta, sem bebê.

Tenho que continuar respirando, comendo, dormindo, pensando, sorrindo, mesmo sem ter a menor vontade. As pessoas me dizem “o Pedro precisa de você”. Acho que hoje eu preciso mais dele. É dele que virá a energia vital para encher nossos corações, meu, do pai, dos avós. E temos uns aos outros também. Lufe se segura em mim, eu nele, e assim a gente fica em pé por um pouco mais de tempo.

Ainda é muito cedo para tentar entender ou aceitar qualquer coisa.  Nem bem aceitei que ele nasceu e ele já morreu, é tão estranho. Por enquanto, continuo me sentindo muito grata ao José por ter nos ensinado tanto. Por ter me tornado uma mãe melhor, uma mulher melhor, por entender muito mais do sofrimento humano. Não há arrependimentos, não há culpas nem culpados, nem doenças, nem porquês. Apenas o destino dele, a história dele, a nossa.

Somos todos uma única energia e certamente encontrarei José de novo, em algum momento, em algum lugar. Sempre vou amá-lo, sempre será nosso filho. Ir ao enterro do meu filho hoje foi a coisa mais difícil que fiz na vida. Viver depois disso será a segunda coisa mais difícil.

E temos muita luz emanando, em meio a tanta dor. Sinto que estamos em paz. Muitas mensagens lindas que recebemos das maternas, dos amigos, da família. Muita força, muita oração. Muita gente vibrando e orando pela passagem do José Luis. Mais uma vez, tenho que dizer que nos emocionamos demais, nossa pequena família, com tanta solidariedade e com a mobilização tão verdadeira e tão intensa em torno da trajetória do nosso filho. Sou muito, muito grata por cada palavra que recebi. Me acalenta o coração sabermos que fizemos a diferença para algumas mães, que refletiram e se aconchegaram mais com seus bebês, valorizando momentos preciosos da vida. Muitas acabaram por agradecer as noites mal dormidas, o cansaço e a as dificuldades típicas do pós-parto e da maternagem, ao invés de lamentá-las. Amigos que disseram coisas tão fortes, tão importantes. Agradecemos muito, mesmo, por termos pessoas tão queridas ao nosso redor.

Nossa casa está cheia de flores brancas. Fomos de branco ao enterro hoje, talvez recebemos a mensagem telepaticamente. Ao fechar os olhos, a cada instante, entoo o mantra da compaixão e imagino uma luz branca. É isso que posso fazer agora pelo meu filho e por todos nós, pedir a compaixão.

Uma semana antes do nascimento, escrevi a carta “Pode vir, José”. Pode vir, José foi dito do fundo da minha alma. Assim como hoje eu tinha de escrever esta. Escrevendo me liberto, liberto a ele e a vocês também.

Pode ir, José. 
Pode ir, José. Porque eu te amo, agora e sempre.
Camila"

Oração de uma materna

"luz que ilumina
que nos envolve
que nos alimenta
coração
ação de cor
um colorido de amor
um bando de olhares maternos
pulsando junto
por ondas internéticas
corações desconhecidos
calor sentido nas teclas frias
pela tela iluminada
mães
de mãos dadas
nos abracemos
em silêncio
"

Enviado por: "barbara" babimsaraujo@yahoo.com.br   babimsaraujo

quarta-feira, 16 de março de 2011

Hoje, uma estrela a mais no céu

O nosso bebê José seguiu o caminho da luz.
De todo o coração, nosso carinho para a família e nossas orações para o José seguir com o seu anjinho da guarda com muita paz e tranquilidade de que sua missão na Terra foi cumprida. Para todos nós ficam as lições o amor e união.
José, uma parte de cada uma de nós, essa enorme família que você conquistou, vai junto com você. Nossos pensamentos estão com a sua família. Nosso coração dói e nossos olhos estão marejados. Sem nunca tê-lo visto, o amamos como se fosse parte da nossa carne.
Sua vida foi um sonho e uma lição.
Fique com o amor de todos nós.




Com amor,
da amiga
Lu Motta

terça-feira, 15 de março de 2011

Segunda, 14 de março - 10 dias

"Hoje foi um dia de grandes passos para o pequeno José. Ele saiu do coma induzido, deixou as drogas pesadas e aos poucos vai voltando para o mundo. Ainda não apresentou nenhum movimento nem abriu os olhos, mas já está sem crises, o que é ótimo. Infelizmente está no jejum, as drogas impossibilitaram receber o leite materno, mas em alguns dias deve retomar e por isso eu continuo ordenhando. Hoje a tarde esteve com Dr Vera, ela é muito legal, gostei muito. Avaliou o prontuário mas nao pode fazer avaliação clinica no José pois ainda ele esta muito sedado e nao tem reações. O diagnostico de anoxia esta correto, todos os exames (tomo) deixam isso evidente. Ainda é muito cedo para avaliar os danos neurológicos. Primeiro ele precisa melhorar a condição clinica, ver como ele responde para depois tirar respirador e aí com calma ir fazendo os estímulos. Ela esperava uma tomo pior. Vão continuar antibióticos por mais 14 dias ainda, mas isso é o de menos no quadro dele, pois é meio que uma precaução. Ela disse que a conduta aqui foi toda correta, apenas talvez a forma de falar e colocar as coisas para nos e que nao foi legal. Pintaram o pior cenário, pode nao ser tão ruim. Ela vai voltar 4a feira para analisar clinicamente, pois ela disse que muitas vezes exame é ruim mas a criança responde melhor ou vice versa. Agora temos que manter a esperança e a Fe que corpo dele vai responder bem e mostrar melhoras clinicas a cada hora. Ele é forte, nasceu a termo, tem tudo para responder bem e ficar sem crises e passar a querer respirar e viver como um recém-nascido saudável, é isso que mentalizo e que estou pedindo e sinto que já estamos recebendo. Hoje ele completou dez dias de vida e não está mais correndo tanto risco, embora o quadro ainda seja grave, ele já está dando pequenos sinais de melhora. Ainda temos um longo caminho a percorrer, mais uns 20 dias de UTI, e isso é bem exaustivo, mas a gente aguenta, se ele aguenta, a gente aguenta também!! Bjs Camila"

domingo, 13 de março de 2011

Domingo, 13 de março - Camila fala conosco

"Querida Anna, vou responder no seu mas te peço a gentileza de

encaminhar para a lista, será impossível responder para todas pois

estou no samaritano e vou ficar ate meia hora por conta da coleta do

leite. Meu iPhone é ótimo pois me permite a leitura de todas as

mensagens aqui e eu me acalento com cada uma. Hoje de manha, em um

horario em que a UTI estava tranqüila, sentei ao lado do leito do José

e, segurando na mãozinha dele como sempre faço, fechei os olhos e

imaginei uma grande roda ao redor do bercinho. Imaginei todas as

maternas e fui falando os nomes das que me escreveram, pois nao

conheço os rostos. Todas de mãos dadas, vibrando positivamente por

ele. Imaginei muita luz e o amor saindo do coração de todas estas

mães! Desde ontem José tem recebido meu leite e quando

estou ordenhando mando todo meu amor, minha cura e minha esperança no

leite que será dado por sonda. Sonho com o dia em que ele poderá mamar

no peito e dormir no colo. Tenho cantado mantras para ele e leio um

livrinho que escrevi durante a gestação, contando da evolução dele na

minha barriga a cada semana. Mãe escritora é assim, ou está lendo, ou

está escrevendo. Para mim, alivia a dor e faz as lagrimas saírem.

Reparei, muito surpresa, que ele cresceu! Em meio a tanto sofrimento e

com tantas drogas, o bebe cresceu! Meu filho mais velho, Pedro, me

disse hoje que esta esperando o José. Disse que o viu e que lá onde

ele está tem dois nenes, o José e o Mateus. Ficamos sem palavras, lufe

e eu, pois nunca comentamos com ninguém mas o bebe no leito ao lado do

José chama-se Mateus. Isso me mostra que Pedro o visitou, talvez em

sonho. Me emociona ver como nada sabemos da vida e que temos mesmo que

confiar. Lufe, meu marido, é a prova viva de que homens choram sim, e

muito. Ele chora de saudades e de vontade de segurar o filho. Chora de

pensar na vida tão comprometida que ele pode ter. Eu procuro nao

pensar nisso. Continuo apenas mandando meu amor e dizendo que ele pode

ficar tranquilo que sou sua mãe e estarei sempre ao seu lado, para nao

ter medo. Digo que a vida na terra é boa, nao é isso que ele vê aqui,

todo mundo de branco e tantas maquinas, tem natureza, nosso jardim,

tem nossa casa, nosso cachorro, nossa cama compartilhada. Tem colo e

tem mamá, tem balde pra tomar banho e banho de sol no quintal e tem

cinematerna pra ir no sling em alguns meses. Estes sao meus sonhos

hoje. Embalar, beijar e amamentar meu bebe. Só isso. Ou tudo isso, no

caso dele. Para isso, ele precisa respirar e para isso ele precisa

viver mesmo. E aí já nao é comigo, é com Deus. Então deixemos nas mãos

dele. Amanha ele será avaliado pela Dra vera e vamos rezar para que

ela nos de um fio de esperança. Mais um dia acabou e José esta vivo,

estável e lutando, com seu forte coração, pela sobrevivência. Um beijo

para todas e obrigada do fundo do coração por tudo! Camila"

sábado, 12 de março de 2011

Sexta, 11 de março - Mensagem da Camila

"Queridas maternas,

Não tenho dado noticias para vocês, pois queria apenas escrever
quando tivesse coisas boas a dizer sobre o quadro do José. Mas hoje,
conversando com Ana Cris, percebi que devo contar, mesmo que não
sejam tão boas. Talvez para dividir minha dor. Talvez para
prepara-las, talvez para aumentar a corrente de fé e orações. O
nosso José entrou em crises convulsivas ontem e por isso não pode
nunca receber o leitinho que tirei para ele. As crises aumentaram,
são muitas convulsões, os médicos então aumentaram os remédios
até uma dose cavalar, e hoje ele foi colocado num coma induzido. Meu
coração se aperta tanto quando escrevo estas linhas. Cada dia fica
mais longe a possibilidade dele mamar, de vir pro meu colo e de vir
pra casa. Mas acredito que tudo pode mudar a qualquer momento, e
continuo pedindo por isso.
Hoje eu vivo, ou melhor, sobrevivo, contando os segundos e minutos,
esperando a cada passagem de hora por uma melhora do meu filho. Nas
muitas horas em que circulo que nem um zumbi pelos corredores do
hospital, aguardando acabarem os "procedimentos" para poder ver meu
bebê, leio as mensagens de voces. Elas me dão tanta força, voces
nem imaginam! Tenho que pedir autorização para um segurança na
porta da UTI para poder ver meu filho e só posso tocá-lo quando
permitem. Isso me faz chorar. Daí vou lá fora, rezo, respiro e às
vezes leio os e-mails. Quando acordo e sinto aquela angustia enorme,
sabendo que tudo isso é real e não um pesadelo, o que me dá força
pra sair da cama e ir para o hospital são as mensagens de fé e
esperança desta grande rede solidária que se criou pelo José. Nos
seus sete dias de vida, ele já fez esta coisa linda, que foi
mobilizar tantas mães e tantas pessoas que nem o conhecem, nem me
conhecem, numa força maior de querer bem, de pedir o bem. É
emocionante ver quantas famílias se tocaram com nossa história!
 Hoje temos que continuar mandando luz e pedindo que Deus faça o
melhor pelo meu filho, o que quer que isso seja. Continuo conversando
com ele, tocando minha mão na dele, e amando, amando muito, este ser
tão frágil e ao mesmo tempo tão forte. Ele, mesmo sem respirar ou
abrir os olhos, virou o senhor da minha vida. Por ele existo, por ele
resisto.
Não é nada fácil. Até semana passada eu e José eramos um só,
hoje estamos tão distantes. Tenho o Pedro, que é meu primeiro filho,
que também precisa de mim e abraço ele bem forte naquelas horas em
que a dor é dilacerante. É um buraco maior que eu que se abriu em
meu peito. Neste buraco cabe muita dor, muita tristeza, às vezes
raiva e revolta, às vezes solidão e muito medo. Medo de perder. Medo
de ter um filho que não terá vida. Mas também cabe muito amor e
muita esperança. É muito antagônico neste momento do nascimento, da
chegada da vida, que é sempre de tanta alegria, estarmos vivendo tão
perto da iminência da morte. É isso que assusta, que apavora. E isso
me faz lembrar que a vida é uma piscada. É um sopro. A nossa
existência é apenas o hoje o agora. A sensação de impotência que
estou sentindo, de não poder fazer absolutamente nada, está me
ensinando a aceitar, de uma forma muito dura, que nada está em nossas
mãos. Tudo que eu sonhei e planejei para mim e meu bebê, o
quartinho, as roupinhas, a licença-maternidade, tudo planejado.
Planejar é uma ilusão.
Desejo que voces todas tenham um final de semana muito gostoso com
seus bebes, beijando, abraçando, curtindo cada dobrinha e cada
risadinha É isso a vida. Se tem uma coisa que minha experiência pode
ensinar, é que os filhos não são nossos, a gente só os recebe no
útero, depois alimenta, educa, cria, ama. Mas eles são da vida, de
Deus, do universo. Tem a sua missão que não é a nossa. Então
sejamos gratas por cada segundo em que eles estão conosco.

Obrigada mais uma vez por cada linha, cada oração, cada lagrima
que foi derramada pelo José, com certeza ele está recebendo todo
este amor.

Um beijo grande, Camila"

quinta-feira, 10 de março de 2011

Quinta, 10 de março - mais um dia

O José é um bebê muito forte e corajoso.
Mais do que nunca precisamos vibrar para e por ele.
Hoje às 20h vamos parar alguns minutos e mentalizar muita energia positiva e luz para o José. Todos nós. Juntos.