quarta-feira, 18 de maio de 2011

Perdoa-me, José

Perdoa-me por meus momentos de revolta, José. Dias como hoje, em que acordo e meu primeiro pensamento é: puxa, mas que droga que isso me aconteceu.

Perdoa-me por meus momentos de fraqueza. Dias como hoje, em que minha energia não aparece e o desânimo insiste em se instalar. Pelas horas em que chego a sentir raiva de algumas pessoas, pessoas que não tem nada a ver com nada, e nem sei por que me irritam. Pelas horas em que entro naquele ciclo vicioso de “por que comigo” que mostra o quanto sou limitada e egoísta.

Perdoa-me pelos meus questionamentos sem fim, a busca incansável pelos porquês. Sei que não devo entender os porquês, não ainda, são razões superiores, de outro plano e de outra ordem, e não cabem dentro da compreensão humana, são maiores e mais complexas do que posso administrar hoje. Envolvem outras vidas, minha e sua. Envolvem coisas que minha mente teve se esquecer para chegar aqui e viver esta vida.
Perdoa-me pela minha ansiedade. Quero logo ficar bem, ficar ótima, seguir e não mais sofrer. Sei que tudo tem seu tempo e que também este tempo vai acontecer à sua maneira, as coisas vão se acomodar.

Perdoa-me minha saudade. Ela é imensa e não tem cura. Agora mesmo estava deitada na cama, lendo um livro de grande sabedoria e pensei em você. O sol que batia no quarto aquecia a tarde de inverno. Pensei que poderia estar ali deitado comigo, poderíamos juntos desfrutar o calor do Sol. Sinto saudades de você em todos os minutos que vivo algo bom, pois queria que você vivesse também.

Perdoa-me meu olhar cansado. Há momentos em que não consigo alegrar meu olhar para ver as coisas boas da vida. Perdoa-me se minhas lágrimas lhe fazem sentir tristeza. Já ouvi falar que os espíritos que se foram sofrem quando veem os seus a sofrer aqui na Terra. Acredite, minhas lágrimas de forma alguma devem agoniá-lo, pois em meu interior mais profundo, me sinto bem, compreendo e aceito sua partida. Choro, no entanto, não sofro de inconformismo. Choro por amor, apenas, meu filho.

Perdoa-me meu desejo de fazer coisas tão frívolas, tão pequenas, com você. É difícil para meu coração entender que você não é este filho de carne e osso, é o filho espiritual, que não desfruta de prazer nestas pequenas coisas e sim vivendo a sua evolução, amparado pelo que há de mais verdadeiro.

Perdoa-me se não consegui cumprir nenhuma das promessas que lhe fiz em vida. Prometi que ficaríamos juntos, que nossa separação era temporária, que você ficaria bem, que logo estaria aqui em casa. Foi muita prepotência da minha parte prometer o que de mim não dependia.

Perdoa-me pela minha humanidade, meu filho. Por este meu lado tão preso às coisas mundanas, tão idealizador, tão planejador, que se aborrece com os planos que mudaram, a vida que não aconteceu, os sonhos não concretizados. Perdoa-me por ser tão pequena a ponto de achar que algo realmente é planejável ou está em nossas mãos.

Perdoa-me por minha possessividade. Fico o tempo todo falando do “meu filho que partiu”, “meu bebê que se foi” sem perceber que você não é e nunca foi meu. Eu o recebi como filho, aceitei gerá-lo em meu útero e dar lhe a vida, ainda que para ser breve, mas nunca foste meu como uma posse, assim como nenhuma mãe é dona dos seus filhos. É apenas meu sentimento de amor que por vezes me faz assim dizer, mas no fundo, sei que não me pertence, pertence ao universo. És apenas filho do Pai. O único e verdadeiro, Deus, esse sim te acompanha e cuida de ti.

Perdoa-me por minhas palavras erradas, pelas dúvidas que coloco, pelas fraquezas que sinto tantas vezes. Sei que sua passagem por minha vida veio me trazer sabedoria e evolução, e desejo do fundo do meu coração assimilar os ensinamentos que com tua bondade e generosidade veio me trazer.

Perdoa-me se meu processo caminha lento ou se dou passos errados. Estou aprendendo e só quero acertar, acredite.

Por fim, perdoa-me se não encontro as palavras certas nem para te pedir perdão. Tudo que quero é a vossa absolvição, para que meu coração possa se sentir livre e leve de qualquer sofrimento. Quero apenas sentir que, em despeito de toda a minha condição momentânea e limitações aqui na carne, nós dois estamos sim conectados, interligados, como aliás sempre estivemos, muito antes e muito depois de meu corpo abrigar o seu corpo.

Escrito em 24 de abril de 2011.